1.1 - A escola (primeiro período) - Versão Original

sábado, 10 de setembro de 2011.


A ingenuidade dos humanos acabou há muito tempo. Arrogância, ódio, preconceito, sonhos falsos. É inacreditável como eles passaram de um simples animal para o ser que domina a Terra, usando e abusando de sua “inteligência”. Meu nome agora é Emma. Antigamente, na minha época como humana, me chamava Natalie.



– 12 Anos Atrás

“Natalie Luther Roberts é uma garota de 16 anos, residente da Califórnia, Estados Unidos da América. Estava no 2° ano do Ensino Médio, na Thomas Norton School.” CAFH, 1998


O Diário 1998 – 21 de Fevereiro

“Que raiva, minha mãe está descontando sua raiva descontrolada em mim. Meu irmão não sofre tanto com a raiva dela, parece que não quer descontar no mais novo. Que vá a merda então.”

“Amanhã tem o primeiro dia de aula no novo colégio. Eu ainda não visitei o colégio, não faço idéia de como seja, minha mãe não falou nada sobre ele para mim. Estou curiosa para saber como ele é, mas confio plenamente na decisão dela. Agora tenho que dormir, amanhã irá amanhecer mais cedo.”



21 de Setembro foi o dia do início da mudança de tudo. Aquele dia acordei as 05h30min da manhã, me arrumei bem, mas não exagerado, afinal, é pra escola aonde eu vou. Tomei meu café da manhã com calma, sozinha, todos em casa acordavam mais tarde e ninguém levantaria mais cedo só por minha causa.

Sai de casa às sete horas, pelo menos era o que meu relógio novo marcava. Meu pai me deu no último final de semana, quando veio nos visitar. Um relógio bom, não deveria custar muito, mas valia muito pelo lado sentimental. Meus pais eram separados, ele morava longe, mas nos visitava a cada duas semanas. Ele não podia ser o pai que toda criança deveria ter, mas ele tentava recompensar sua ausência com um pouco de carinho. Bem, ele não era muito carinhoso, mas tentava ao seu modo.

Demorei uns 5 minutos pra chegar ao ponto do ônibus, 07h10min o ônibus chega. Ele era diferente dos tradicionais, ônibus amarelos com bancos de qual jeito: ele era vermelho com uma faixa branca. Os bancos dele eram muito aconchegantes, se o colégio fosse assim, estava ótimo. O ônibus não estava lotado de pessoas diferentes de qualquer outra escola, a mesmice de sempre. Sentei em um dos poucos bancos livres e dei pouca atenção às pessoas a minha volta.

Chegamos cerca de vinte minutos depois. Descemos do ônibus, olhei para frente, abismada. O colégio era imenso, e tinha muitas pessoas entrando, mil pessoas não seria um número exagerado. Adentrei e reparei que atrai alguns olhares, deveria ter algo errado comigo, no meio de tanto gente, não seria notada por nada. Peguei minha chave, era a 684, fui até meu armário e despejei meu material lá dentro. Eles decidiriam se já teria alguma matéria no primeiro dia, então deixei todos meus livros no armário mesmo. Olho para o lado, e vejo um grupo de cinco garotos.

Haviam quatro em pé, eram grandes comparados aos outros e bem fortes, jogadores de futebol? Bem, o quinto, estava surrado no chão. Dava dó de tanto de chutes que ele levava, tentava reagir, mas aquilo era covardia. Não tinha como aguentar ver aquilo, onipotente com a situação, decidi sair dali. Anunciam que tudo começaria 30 minutos mais tarde, o diretor faria um discurso na quadra do ginásio. Legal, não sabia onde era o ginásio, mas iria seguir para onde a multidão fosse.

Segui a multidão, e comecei a ver também alguns seguranças aparecendo no lugar. Aparentemente todo mundo era obrigado a ir ver o discurso do diretor. Onde estavam esses seguranças quando aquele garoto era surrado por aqueles covardes? Bem, arranjei um lugar na arquibancada e meio distante um homem um pouco barbado em um palco no meio da quadra: era o diretor. Ele tinha um cabelo curto, um pouco grisalho, usava um terno preto com listras cinzas e aqueles típicos sapatos negros.

- Silêncio! – ele gritou, a voz grossa fez que praticamente todos virassem sua atenção para ele, calados – Para os que não me conhecem, me chamo Pablo Smith, sou o diretor deste magnífico colégio. Estamos nos esforçando como sempre para conseguir dar a vocês o melhor estudo possível. Mas seremos rígidos, essa sempre foi nossa proposta. Os que fizerem coisas que vão contra nossa conduta, serão punidos. Quem for contra isso, pode passar na direção agora, pegar seu reembolso e boa sorte com suas vidas medíocres. Aos que prosseguirem conosco, digo que começamos a formação de uma nova geração que será capaz de reger nosso país. Boa sorte para os que merecem e adeus para os seus antônimos. Para os que quiserem ficar, hoje alguns professores vieram, vocês podem conhecê-los, para quem não estiver interessado, podem se retirar agora, vocês tem 20 minutos para saírem do colégio até que os portões sejam fechados. Amanhã as aulas começam.

Imediatamente, a intensa multidão começou a correr em direção à saída, mas como o ginásio estava lotado, ouve muito empurra-empurra. A situação pareceu sair do controle, muitas pessoas foram derrubadas. Será que eu estava entrando em um zoológico? Fiquei em um canto somente observando, esperando poder sair daquele lugar, mas sem entrar naquela correria. Olhei para o diretor, que vendo a situação, não fez nada além de dar as costas a situação e ir embora. Grande diretor... Até agora a única coisa boa nesse colégio foi o ônibus, que vontade de deitar nele e tirar um cochilo...

Quando olhei novamente para a multidão, apenas um pouco menor, vi uma garota cair, só que essa teve muito azar: levou uma baita de uma bicuda na nuca. Do nada, não reparava em mais nada, nem nas pessoas correndo, só naquela pobre garota desmaiada. Imediatamente, corri rapidamente em sua direção. Como a multidão havia diminuído bastante, foi bem fácil se aproximar dela. Cheguei perto dela, me agachei e coloquei-a sobre o meu colo. Pus a mão embaixo da sua cabeça para poder ter um apoio para ver bem o seu rosto, mas senti um calor. Tirei a mão debaixo da sua nuca e minha mão estava bem vermelha.

Com o sangue da garota na minha mão, me bateu um desespero repentino. O que eu iria fazer? A carregaria para a enfermaria? Eu conseguiria carregá-la? Onde ficava a enfermaria? Havia uma enfermaria? No meio do meu desespero diante aquela situação, apareceu um garoto olhando para ela e se agachou também, com o rosto bastante abatido. Ele era até que alto, tinha algo envolta de 1,80m, moreno com os cabelos longos castanhos escuros, assim como seus olhos. Usava um tênis All-Star com uma calça estranha que nunca vi antes e uma camisa do Metallica. Metallica, isso mesmo garoto! Ainda vou a um show deles.

- Temos que levá-la a enfermaria – ele disse – ela pode ter tido alguma concussão ou até algo mais grave.

- Sim – respondi toda desconjuntada. Ele a pegou no colo e saiu carregando-a em direção de uma porta estranha de madeira. Ele pediu para eu abri-la e eu o fiz rapidamente. Saímos em um grande salão com a parede com desenhos de cavalos alados negros. Mas não se enganem pensando que a imagem se tratava de cavalos negros malignos, prestes a atacar. Esses cavalos demonstravam uma pureza que nunca vi em qualquer outro cavalo. Estranhamente eu tinha a sensação de como aqueles cavalos estivessem olhando para mim.

Olhei para o garoto ao meu lado e acabei falando sem pensar:

- Já vão fechar o portão...

Ele me encarou de forma tão séria que acabei ficando sem graça.

- Se quiser, pode ir – disse ele – Eu posso levar ela sozinho, não se preocupa.

- Não, não, eu quero saber dela, eu vou ficar.

Ele sorriu e finalmente chegamos a enfermaria.

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